INAUGURAÇÃO DA MATRIZ DE LORENA

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INAUGURAÇÃO DA MATRIZ DE LORENA
Silvio Junqutti.

“…. A névoa cobre os templos iniciais, embora não a ponto de ocultar os fundadores da Capela e do povoado: o grande capitão das vestes de ouro, Bento Rodrigues, destemido entre os Caldeiras; e os com que com ele constituíram rendas para a Igreja, três bravos de progênie dos Pereiras e dos Colaços e Machados Jacômes…”
Assentada numa praça à beira do rio, a modesta capela apresentava no seu interior, a imagem antiga de Nossa Senhora da Piedade, com seu coração de ouro e de grande devoção para os que iam e vinham das aventuras em busca do metal precioso, tão cobiçado naqueles tempos.
Aliás a devoção a Nossa Senhora da Piedade chegou até Minas Gerais, através dos aventureiros que passavam pelo arraial.
Em 1718 “da graciosa Vila de Santo Antonio das muitas garças brancas desmembrou-se o arraial da virgem e das tortas goiabeiras”, sendo o primeiro vigário, o padre Pedro Vaz de Machado. Esta Igreja Matriz recebeu através dos tempos, varias reformas imperfeitas, chegando a determinada época a querer ruir-se.
Tendo como ponto de partida a vultuosa contribuição financeira da Exma. Sra. Viscondessa de Castro Lima, mais doações da Nobreza Imperial, e local, pequenas contribuições da população e extrações de loterias, trataram logo em planejar a construção de nova Matriz, sob planta do grande engenheiro Ramos de Azevedo que depois cobriu-se de tantas glorias.
A Matriz deveria permanecer voltada a sua faze para o Rio Paraíba e para a Serra da Mantiqueira, inicio da povoação.
As obras de demolição do antigo centro religioso começaram no dia 14 de outubro de 1886, nas proximidades da honrosa visita de Suas Majestades Imperiais a esta cidade em 18 do mesmo mês e ano, tendo sido começada as fundações em 13 de novembro de 1886.
Os dois responsáveis pela construção na nova Matriz e Casa Paroquial, foram os padre José Ferreira da Silva e o Conde de Moreira Lima.
E quando tudo deveria acabar em abraços fraternais, surgiram discórdias e acusação mútua, tendo como centro da questão o setor financeiro das duas obras.
Com esta rivalidade, houve até divisão de opinião publica. Mas para termino de tudo isto, o vigário acabou sendo transferido para a paróquia de Silveiras, em data de 17 de maio de 1891.
Bem, concluída a obra de deixar as cidades irmãs perplexas diante da beleza e riqueza da nova matriz, resolveu-se logo inaugurá-la.
Para estes grandes dias, logo os responsáveis pelo Município trataram de mandar limpar as ruas da cidade (aliás eram poucas nesta época); os moradores pintaram as fachadas de suas casas, etc.
Todos estavam preocupados em receber bem os visitantes para tal ocasião.
Partiram da capital no dia 31 de dezembro de 1889, e aqui chegando no expresso desse mesmo dia, o Bispo Dom Lino Deodato e comitiva, procedendo à tarde, a benção solene do templo.
A noite, foi efetuada a colocação e deposito das sagradas relíquias para a sagração do altar-mór, sob invocação de Nossa Senhora da Piedade, orago da Igreja e da Paróquia.
Em seguida à benção, realizou-se a solene transladação da venerada imagem de Nossa Senhora da Piedade da Igreja de São Benedito, que estava servindo de matriz para o seu próprio e novo templo com extraordinária concorrência e regozijo da população.
No dia 1º de janeiro de 1890, festa da Circuncisão do Senhor, sagrou-se o altar-mór, bem como os dois laterais, introduzindo na cavidade central a autentica em pergaminho com as relíquias dos santos mártires, Angélico, Celestino e Teodoro, além do mais que prescreve o Pontifical Romano.
Às 11 horas da manhã começou a missa Pontifical, no novo altar-mór.
No dia 3, à noite, depósito e exposição das relíquias para a sagração do altar de Nossa Senhora da Guia.
No dia 4, sagração desse altar, incluindo-se na cavidade central ou sepulcro, as relíquias dos santos mártires: Angélico, Fortunato e Celestino.
Nesse mesmo dia, à noite, exposição e colocação das relíquias para a sagração do altar do Sagrado Coração de Jesus.
No dia 05, domingo, sagração desse altar incluindo-se nesse sepulcro as relíquias dos santos mártires: Angélico, Fortunato e Aurélio.
No dia 7, no regresso da comitiva, foi celebrada missa pelo eterno descanso da Exma. Imperatriz e Virtuosa Excelsa Princesa Da. Teresa Cristina, falecida na cidade do Porto, a 28 de dezembro do mesmo ano findo. Foi neste mesmo dia administrado o Chrisma.
A graciosa cidade de Lorena, viu-se em festa por uma semana e ali continua perpétuo o templo, hoje Catedral, sem a presença do lendário rio que viu o arraial da Piedade nascer como um albergue à beira da estrada.
Ali, permanece o lar da Virgem como marco da presença constante da fé de um povo bom e obreiro. Das tardes que se faz longe “como pombos a fugir em nuvens de tranqüilidade a debaterem-se contra este céu azul, manto desdobrado da Senhora e nossa da Piedade”…

Jornal Guaypcaré. Clarim da Saudade; Inauguração da Matriz de Lorena. Silvio Junquetti. Lorena, agosto de 1993.

Rosangela Malerba
Bibliotecária-CRB/4062

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